Afigura-se redundante falar da fase difícil que a humanidade atravessa, já que na sua transversalidade afeta países ricos e pobres, entidades coletivas e individuais, atingindo as sociedades nas suas mais diversas áreas de atividade de modo tão contundente que só poucos dos que hoje ainda vivem têm memória de algo semelhante.
A Comunicação Social, particularmente os seus canais informativos em continuidade, 24 horas por dia, não deixa que o esqueçamos, dando especial e merecido ênfase àqueles que, por força das suas atividades profissionais, tendo já no seu normal quotidiano tarefa muito exigente, veem-se agora especialmente sobrecarregados. Em relação a essas mulheres e homens abnegados e ao seu trabalho, o futuro não poderá ser amnésico. Esperemos que a sociedade, no seu todo, não passe uma esponja que faça esquecer estes tempos terríveis pelos quais todos estamos passando e que o esforço dessas mulheres e homens seja devidamente reconhecido.
Também a prática desportiva, em todas as suas inúmeras vertentes, foi afetada pelo fenómeno, tendo sido suspensa desde a formação ao alto rendimento, sem deixar de permeio mais que não seja a atividade física individual, as agora muito comuns e saudáveis caminhadas e o mais que a imaginação criadora de cada um seja capaz de por em prática, no seu confinamento.
O futebol, modalidade desportiva universal, disseminada como nenhuma outra, vive momento de particular dificuldade. É uma atividade que contém em si a conjugação de fatores como o jogo, o desporto e o espetáculo e que aporta um significativo contributo para a saúde pública e destaca-se não somente como uma ferramenta educativa e cultural de grande valia, mas também por ter evoluído para uma indústria geradora de centenas de milhar de postos de trabalho e por criar receitas significativas para os orçamentos dos Estados.
Arrastados vinham do passado múltiplos conflitos de interesses que, tendo na sua génese os vultuosos benefícios comerciais e financeiros, emergiram, expondo nas mais altas instâncias o evidente desacordo e falta de sintonia no que envolve o futuro da modalidade. A multiplicação deste facto atinge as diversas tutelas nacionais a que Portugal não pode escapar.
Se excluirmos a posição clara assumida pela Federação Portuguesa de Futebol interrompendo, cancelando e anulando todas as provas sob sua tutela, tudo o resto se resume a um ruidoso silêncio, a um silenciar obviamente estratégico, que abrange o patamar superior da modalidade mas também quantos, por força dos cargos que ocupam e da responsabilidade daí resultante, têm a obrigação de zelar e garantir o futuro, não só dos clubes profissionais como, de igual modo, do negócio como um todo e que deveria caber nas suas preocupações. Depreendemos que alguns falam, os que jogam os maiores interesses, embora das suas bocas não saiam sons, quais xadrezistas que esperam o momento apropriado para fazer a sua jogada e conseguir o xeque mate. Em defesa da verdade, algumas exceções têm surgido, um que avançou para a retoma dos treinos e aqueloutro que defendeu o fim das competições profissionais, embora saibamos, como sabemos, que o fazem em defesa do seu momento classificativo. Aguardemos pois.
Refletindo sobre tudo o que é estruturante, surge como necessária e urgente a reformulação dos quadros competitivos e um mais justo equilíbrio no acesso aos meios financeiros, alinhando-os com uma realidade concreta que reflita com objetividade a capacidade de resposta de todos quantos podem, querem e têm meios para participar.
O enorme, e mais que comprovado, talento e apetência da nossa juventude por este jogo, o esforço formativo e a elevada qualificação dos nossos treinadores e os avanços logísticos, científicos e tecnológicos ganhos nas últimas décadas pouco parece importarem, para além da incerteza que deixa adivinhar, que provavelmente e uma vez mais, não iremos saber aproveitar este momento de dificuldade para o transformar numa excelente oportunidade tendo em vista encontrar um novo e melhor rumo para o nosso futebol.
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