Muito jovem, com apenas 17 anos, Jan Oblak deixou o Olimpija Ljubljana para rumar ao Benfica. José Boto, na altura a trabalhar na Luz, revelou como tudo decorreu.
«A primeira vez que o vi foi num jogo dos sub-21 da Eslovénia. Tinha três anos a menos que essa categoria. Chamava a atenção ver aquele miúdo de 16 anos e começamos a segui-lo com detalhe em vídeo e ao vivo. Vê-lo desenvolver-se com essa idade daquela forma impacta-te. Fui vê-lo dois jogos e um outro colega mais dois. Passou à primeira equipa. Era um jovenzinho com possibilidade enormes, já tinha muita experiência», começou por explicar, ao AS.
Os principais atributos foram fáceis de identificar. «Era quase uma criança, mas tinha a maturidade própria de um guarda-redes com mais de trinta anos. E, claro, a agilidade debaixo dos postes. Era espetacular, boa, como é agora, um dos melhores, talvez até o melhor, do mundo. Tinha uma serenidade anormal, muito por cima da idade, parecia que tinha 32 anos. Fizemos os informes e a decisão foi rápida. O presidente é que se ocupava dos processos de negociação», explicou.
Na Luz foi várias vezes cedido: primeiro ao Beira-Mar, depois ao Olhanense, depois ao União de Leiria e por fim ao Rio Ave, onde se afirmou. «No Benfica tínhamos claro que, quando precisas de antecipar tanto em idade, é também preciso ser paciente, especialmente com um guarda-redes. Não podes pegar num miúdo de 18 anos e metê-lo a jogar na Liga dos Campeões no dia seguinte. O guarda-redes, além disso, é diferente. Um jogador de campo pode ficar meia temporada para veres como se adapta, mas um guarda-redes precisa jogar. Uma pessoa acompanhava os emprestados, preparando um relatório todas as semanas. Estávamos a olhar e perguntamos aos clubes e treinadores. Ele teve um processo estranho, porque nas duas primeiras saídas não jogou muito, mas quando o fez, foi muito bom. Ele próprio viu esses relatórios, que confirmaram o que pensávamos quando o contratamos, que ele era um guarda-redes diferenciado. Então perguntámos aos treinadores porque é que ele não jogava mais e a resposta foi sempre a mesma: “Ele simplesmente não tem tanta experiência, ele é jovem, há outro veterano que eu tenho que meter …” Até que chegou ao Rio Ave e lá mostrou tudo seu potencial.»
Depois ficou em Lisboa, como número dois de Artur Moraes, até que assumiu a baliza em dezembro de 2013. «Isso define o caráter dele. Lesionou-se o titular e chegou a altura dele. Agarrou a oportunidade e não a soltou, com muita decisão. Demonstrou que, apesar de não jogar, estava focadíssimo. Temos um carinho muito grande por ele, que um jogador chegue ao patamar que previas.»