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Histórias do Mundial: A batalha de Nuremberga em 2006

Histórias do Mundial: A batalha de Nuremberga em 2006

Com o Mundial de 2022 no Qatar em disputa, olhamos para os momentos que marcaram o Mundial de futebol e que permanecem até hoje na nossa memória, sejam eles bons ou maus.

Com tanto em jogo no Mundial de futebol, os nervos e o stress da competição tornam-se cada vez maiores à medida a que as equipas vão se aproximando da final. Mas por vezes, a competitividade pode ficar fora do controlo e foi precisamente isso que aconteceu num jogo do Mundial em 2006 entre a Holanda e Portugal. O Mundial teve lugar na Alemanha e a Itália foi a vencedora da competição, chegando assim ao 4.º troféu arrecadado no Mundial. A vitória acabou por ser ofuscada por outra história que correu muita tinta já depois da competição terminar.

A verdade é que o jogo entre Portugal e a Holanda foi provavelmente o acontecimento mais falado de todo o Mundial. O jogo foi tão mau que até recebeu o apelido de Batalha de Nuremberga. Caso tenha visto o jogo ao vivo e ainda se lembre, talvez tenha pensado que estava a ver um jogo da UFC em vez de um jogo de futebol. Ao longo de todo o jogo, o árbitro marcou mais de 20 faltas e isso foi um recorde de faltas num jogo da FIFA.

Com este jogo, o Mundial de 2006 foi, de facto, o mais vergonhoso de sempre. Se analisarmos todos os jogos deste Mundial, houve um total de 345 cartões amarelos e 28 cartões vermelhos. Até agora, este recorde não voltou a ser batido e esperemos que assim continue porque a verdade é que este é um recorde que ninguém quer. 

Visão geral do jogo entre Portugal e a Holanda

No Mundial de 2006, Portugal tinha vencido o Grupo D, enquanto a Holanda terminou em segundo lugar no Grupo C. Isto levou a um encontro entre as duas seleções nos oitavos de final, encontro este que poucos poderiam imaginar da forma que terminou. O jogo aconteceu a 25 de junho em Nuremberga, daí o apelido que ficou associado a este jogo.

Além dos mais de 40.000 adeptos presentes no Estádio Max-Morlock, que na altura se chamava Frankenstadion, milhões de pessoas assistiram ao jogo a partir da sua casa, cafés e nas ruas de todo o mundo. 

Para arbitrar este jogo, foi chamado o árbitro russo Valentin Ivanov, que acabou por se tornar famoso por assinalar mais de 20 cartões neste jogo. 

Se estão a pensar haver alguma coisa que fazia prever isto ou houve um acontecimento em particular que despoletou esta situação, a verdade é que não. Não havia nada que indicasse que o jogo seria muito atribulado e se olharmos para o jogo anterior entre as duas seleções (Euro 2004) não encontramos nenhum sinal. 

16 cartões amarelos em 90 minutos

O cartão amarelo é atribuído pelo árbitro durante um jogo de futebol para advertir o jogador. Isto pode acontecer por uma série de razões, mas, em geral, estão relacionados com comportamentos perigosos em campo. Portanto, é surpreendente que o árbitro tenha sentido a necessidade de assinalar 16 cartões amarelos em 90 minutos de jogo. Nenhum outro jogo chegou a este número, mostrando a singularidade desta partida. 

Portugal recebeu nove cartões amarelos e a Holanda sete, havendo quem diga que Portugal jogou de forma mais desonrosa do que a Holanda, mas de qualquer forma é claro que ambas as seleções não jogaram segundo as regras, senão isto não tinha acontecido. Neste artigo vamos analisar ao detalhe o famoso jogo entre Portugal e a Holanda e perceber o que aconteceu para que tantas faltas tenham sido assinaladas.

O que aconteceu na Batalha de Nuremberga?

Como já tínhamos mencionado, este jogo ainda está na memória de muitos adeptos como um dos mais infelizes da história do futebol. 

No futebol, normalmente se alguns momentos mais perigosos acontecem no início do jogo, costumam ter alguma benevolência do árbitro e não é muito comum vê-lo a dar cartões amarelos e vermelhos logo no início da partida. No entanto, não foi isso que aconteceu no jogo entre Portugal e a Holanda. 

O primeiro cartão amarelo foi assinalado apenas dois minutos após o início da partida ao jogador holandês Mark Van Bommel. A verdade é que um amarelo aos dois minutos foi uma premonição para o que estava para vir. Ainda antes dos 10 minutos, mais um cartão amarelo foi assinalado pelo árbitro ao jogador holandês Khalid Boulahrouz, sendo que este cartão amarelo aconteceu devido a uma falta sobre Cristiano Ronaldo, que levou o jogador português a ter de sair do campo.

Em menos de 10 minutos já tinham sido assinalados 2 cartões amarelos, uma situação muito invulgar. 

A entrada sobre Ronaldo que o tirou do jogo

Como foi mencionado acima, o amarelo de Boulahrouz foi devido a uma entrada sobre Ronaldo aos sete minutos e que levou o avançado português a sair do jogo. Após sair do campo, Ronaldo voltou ao jogo, mas teve de ser substituído meia hora depois devido à lesão causada por Boulahrouz. O jogador português deixou o campo em lágrimas por não conseguir jogar mais e emocionou todas as pessoas que assistiam ao jogo.

Após o jogo, Ronaldo condenou Boulahrouz pela falta cometida contra ele e afirmou que se tratou de um ato propositado para o lesionar. Se era essa a intenção acabou por funcionar, porque Ronaldo não conseguiu terminar o jogo e isto significou que Portugal continuou o jogo sem a sua estrela principal. 

Quatro jogadores receberam cartões vermelhos

Dos 16 cartões amarelos assinalados durante o jogo, 4 deles foram dados como um segundo cartão amarelo, o que significa que quatro jogadores foram expulsos. O único ponto positivo que se pode retirar é que pelo menos não houve nenhum cartão vermelho. Contudo, isso não justifica o facto de cada uma das equipas ter terminado o jogo com 9 jogadores em campo.

Costinha foi o primeiro jogador a ser expulso durante o jogo. O jogador português recebeu o seu segundo cartão amarelo antes do apito do intervalo. Não muito tempo depois do segundo tempo, o jogador que lesionou Ronaldo recebeu o seu segundo amarelo, o que fez com que Boulahrouz saísse do campo ao minuto 63. As coisas acalmaram uns minutos até que Deco recebeu o segundo cartão amarelo e acabou expulso aos 78 minutos, depois de apenas cinco minutos antes ter recebido o primeiro cartão amarelo. 

O último jogador a receber o cartão Vermelho foi Giovanni Van Bronckhorst, mas como aconteceu ao minuto 95 acabou por não ter impacto no jogo.

As críticas ao árbitro

Desde a famosa Batalha de Nuremberga que o árbitro Valentin Ivanov tem sido duramente criticado pela forma como lidou com o jogo. Muitos afirmam que ele foi demasiado rígido a assinalar cartão amarelo, no entanto, o pai do árbitro alegou que a FIFA tinha dado indicações aos árbitros para serem duros com as faltas no campo. Apesar da declaração do pai do árbitro, o presidente da FIFA na altura, Sepp Blatter, declarou que Ivanov deveria ter dado também um cartão amarelo a si próprio pelo mau desempenho enquanto árbitro.

Foi emitido um pedido público de desculpas de Blatter após estes comentários, no entanto, Ivanov foi dispensado das suas funções após o jogo e não arbitrou mais nenhum jogo no Mundial de 2006. Com isto tudo, podemos afirmar que a FIFA concordou que Ivanov foi demasiado duro com os jogadores durante o jogo.

Independentemente de concordarmos ou não com os cartões amarelos assinalados, o árbitro russo acabou por criar um grande momento na história do Mundial de futebol e um recorde que ainda não foi ultrapassado.