Histórias do Mundial: A doença misteriosa de Ronaldo antes do Mundial de 1998
- Updated: 02/12/2022
Com o Mundial de 2022 no Qatar a ser disputado, olhar para os momentos que marcaram o Mundial de futebol e que permanecem até hoje na nossa memória, sejam eles bons ou maus.
O Mundial de 1998 ficou marcado por vários momentos que ainda hoje estão na memória dos adeptos. Quer seja a rasteira de David Beckham ao argentino Diego Simeone, ou a velocidade incrível de Michael Owen e o seu golo fenomenal. Para muitos, a incrível prestação do jogador francês Zinedine Zidane destaca-se como um dos melhores momentos da competição. O francês foi essencial para as vitórias da seleção e na final do Mundial marcou dois golos.
O talento surgiu desde cedo
No entanto, para alguns, o Mundial de 1998 será sempre associado ao brasileiro Ronaldo, apelidado melhor jogador do mundo antes da competição e que teve um grave problema na noite antes do jogo. Nos últimos anos, o jogador tinha vindo a demonstrar o seu talento e a assustar as seleções que jogavam contra o Brasil. Com apenas 17 anos ele marcou 34 golos numa única temporada pelo Cruzeiro, levando-o ao PSV Eindhoven na Holanda. O brasileiro continuou a crescer rapidamente e acabou por se mudar para o Barcelona.
Em apenas uma temporada sob o comando de Bobby Robson no Camp Nou, Ronaldo marcou 34 golos em 37 jogos, incluindo um dos maiores golos de todos os tempos ao passar por seis ou sete jogadores antes de marcar. Após esse momento, o jogador pôs as mãos na cabeça, mostrando que também estava incrédulo com o que acabara de fazer.
No ano seguinte, Ronaldo, de apenas 20 anos, jogou em Itália e em cada jogo deixava o seu rasto, combinando uma incrível capacidade de imaginação com um ritmo elevado que tornava muito difícil outros jogadores fazerem-lhe frente. Ele terminou a temporada com 25 golos, um número fenomenal, e marcou seis golos durante a presença do Inter de Milão na Liga Europa.
Temido por todos
No Mundial de 1998 em França, todos tinham receio de Ronaldo porque conheciam bem a sua qualidade enquanto jogador. Após ter trocado o Brasil pelos clubes europeus, o avançado teve uma prestação invejável nas últimas três temporadas, por isso as expectativas para a sua prestação no Mundial eram elevadas.
Durante o Segundo jogo do Brasil na fase de grupos, Ronaldo, de apenas 21 anos, foi essencial para dar a vitória ao Brasil. Deu assistência num golo de Bebeto e também marcou durante esse jogo, e esta prestação foi um sinal daquilo que estava para vir no Mundial de 1998.
No jogo entre o Brasil e a África do Sul, já na fase das eliminatórias, Ronaldo marcou dois golos. O primeiro teve uma pitada de sorte, com o guarda-redes chileno a tocar na bola com as pontas dos dedos e não conseguir impedir que ela entrasse. Já o segundo golo, foi à moda de Ronaldo, seguindo a sua técnica e marcando com alta precisão.
A seleção dinamarquesa defrontou o Brasil nos quartos de final, e embora Ronaldo não tenha marcado, ele foi fundamental na vitória de 3-2 do Brasil ao dar assistência a dois dos três golos brasileiros.
Na semifinal do Mundial, Ronaldo voltou a brilhar frente à Holanda num jogo decidido nos penáltis. Marcou o primeiro penálti pelo Brasil e abriu caminho à vitória do jogo e a um lugar na final do Mundial de 1998, na qual o Brasil ia enfrentar a França.
A doença que surgiu do nada
Os maiores jogos são feitos para os melhores jogadores, e antes da final do Mundial de 1998, Ronaldo era considerado o melhor jogador do mundo. O jogo teria lugar no Stade de France, em Paris, e os adeptos estavam expectantes de assistir ao jogo final, e, claro, ver Ronaldo a jogar.
Poucas horas antes de as equipas chegarem ao estádio, Ronaldo sofreu uma convulsão no seu quarto de hotel. A notícia deste inesperado e inexplicável situação chegou rapidamente ao treinador brasileiro Mario Zagallo, que tomou a decisão não incluir Ronaldo no 11 inicial do jogo.
No entanto, a história não acabou aqui. Muito depois da final do Mundial de 1998, Zagallo recordou que após nomear o seu 11 inicial e de chegar ao estádio para se preparar para o jogo, Ronaldo apareceu afirmando que já estava bom e exigiu jogar. O treinador brasileiro sabia bem o quão importante era aquele momento para o jogador, por isso, decidiu incluí-lo na equipa.
O desespero brasileiro em Paris
Apesar de não saber se Ronaldo estava a 100%, Zagallo incluiu o jogador no 11 inicial porque sabia bem a importância que ele representava na seleção brasileira. Ronaldo entrou em campo na final com vontade de tornar o Brasil campeão, mas não demorou muito para que os adeptos notassem que alguma coisa não estava certa.
Se em jogos anteriores, Ronaldo conseguia atacar como ninguém, o mesmo não aconteceu neste jogo. O avançado brasileiro parecia desligado e não mostrava a mesma garra dos últimos jogos. Desta forma, a seleção francesa conseguiu lidar facilmente com a ameaça de Ronaldo e acabaram por ganhar o jogo e se tornar os campeões mundiais. A equipa brasileira estava visivelmente abalada com o que tinha acontecido a Ronaldo e isso poderá ter afetado a sua prestação.
Após o jogo, quando foi revelado aos jornalistas o que tinha acontecido na véspera a Ronaldo, começaram a surgir todo o tipo de conspirações. Houve quem dissesse que o avançado sofria de epilepsia, e outros diziam que o seu colapso deveu-se ao stress associado à pressão que todos tinham colocado nele. A verdade é que apenas Ronaldo e os seus colegas mais próximos é que poderão saber a verdadeira razão por detrás deste incidente em Paris.
Graças ao seu historial como jogador de primeira e a sua performance nos jogos antes da final, Ronaldo foi ainda nomeado como o jogador da competição.
A vida depois de 1998
O jogador na altura ficou conhecido como “O Fenómeno” tal era a sua habilidade e capacidade de brilhar em campo, mas a carreira de Ronaldo acabou por se tornar numa espécie de montanha-russa, com altos e baixos a partir deste momento. O problema de saúde que levou ao incidente que ocorreu no Mundial de 1998 foi um forte abalo para a sua carreira.
Durante a época 1999-2000, Ronaldo, que era o capitão do seu clube, sofreu uma lesão que muitos ainda consideram ser uma das piores que o futebol de primeira divisão já viu. O avançado rompeu os tendões do joelho. Após uma cirurgia e seis meses de recuperação, Ronaldo regressou, mas infelizmente, a sua onda de azar ainda não tinha terminado. Apenas alguns minutos depois do seu tão esperado regresso, Ronaldo caiu no chão e sofreu mais uma vez um ferimento nos tendões, desta vez uma rutura total.
Com este incidente os adeptos pensavam que a sua carreira tinha terminado, mas o avançado brasileiro estava determinado a continuar no futebol. Apesar de ter falhado a época 2000-2001, voltou em 2002 e estava pronto para o Mundial.
A vingança de Ronaldo
Ronaldo voltou para jogar no Mundial de 2002 no Japão e muitos questionaram se ainda estava à altura do desafio. Quem tinha estas dúvidas rapidamente perceberam que o avançado brasileiro estava pronto para voltar a deslumbrar os adeptos com as suas prestações incríveis. Com o Ronaldo apto para jogar, isto significava que a seleção brasileira foi para o Japão com mais um trunfo, além de Ronaldinho e Rivaldo. Assim, o Brasil parecia pronto para a vitória!
O primeiro jogo do Brasil no Mundial de 2002 foi contra a Turquia, e Ronaldo marcou um dos dois golos da partida. No segundo jogo, Ronaldo volta a atacar e consegue marcar dois dos cinco golos do Brasil neste jogo contra a China, colocando assim a seleção brasileira no topo do seu grupo. Na fase das eliminatórias do Mundial, Ronaldo marcou mais dois golos e ajudou o Brasil a chegar à final, onde iria enfrentar a Alemanha.
Com uma equipa incrível, reforçada por Ronaldo, a seleção brasileira estava mais forte do que nunca e conseguiu ganhar à Alemanha. Ronaldo marcou os golos da partida, deu a vitória ao Brasil e ainda levou para casa a Bota de Ouro. Ronaldo continua a ser o jogador mais jovem de sempre a ganhar a Bolas de Ouro, alcançando este feito pela primeira vez aos 21 anos e novamente aos 26.
Um verdadeiro herói
Nos anos seguintes, embora com as lesões que já tinha mais as que iam aparecendo, Ronaldo, além das duas Bolas de Ouro, foi considerado o jogador do ano da FIFA três vezes e cimentou a sua posição entre os melhores jogadores de sempre.
Após ter participado em três Mundiais de futebol, Ronaldo reformou-se em 2011. O avançado brasileiro foi um jogador chave para alguns dos maiores clubes do mundo, incluindo o Barcelona, Inter de Milão, AC Milan e o Real Madrid. Ao longo da sua carreira, marcou 284 golos em 384 jogos nos diversos clubes de futebol em que passou. Ganhou os mais variados troféus, nomeadamente a Liga Europa, a Taça del Rey e a Taça dos Clubes Vencedores de Taças da UEFA. Ronaldo foi também coroado campeão do La Liga em 2003 e 2007, quando era jogador do Real Madrid.
A nível internacional, as conquistas de Ronaldo foram impressionantes. Quando se reformou, o jogador tinha alcançado a vitória de um Mundial de futebol e duas vitórias na Copa América. Com a camisola da seleção brasileira, Ronaldo marcou 62 golos em 98 jogos. Apenas Neymar e Pelé é que conseguiram marcar mais golos do que o avançado brasileiro.
O colapso de Ronaldo em 1998 foi também o colapso da seleção brasileira e o regresso do jogador trouxe uma nova vida à seleção do seu país. Se alguma vez existiu um jogador digno de ser rotulado de “O Fenómeno”, é o Ronaldo.
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