Histórias do Mundial: A melhor equipa de sempre? O Brasil em 1970!
- Updated: 03/12/2022
Com o Mundial de 2022 no Qatar em disputa, olhamos para os momentos que marcaram o Mundial de futebol e que permanecem até hoje na nossa memória, sejam eles bons ou maus. Em 1970, o Brasil conquistou o mundo ao levar ao Mundial no México uma equipa do outro mundo que é atualmente considerada por alguns como a melhor equipa de futebol de sempre. Para as seleções que enfrentaram o Brasil, não foi uma tarefa fácil conseguir fazer frente a uma equipa que atingia um nível de perfeição nunca visto.
Brasil 1970: as origens
Em 1958 e 1962, o Brasil foi campeão mundial, primeiro na Suécia com Garrincha, Dalma Santos, Vava e Pelé e depois quatro anos mais tarde no Chile, com a maior parte dos mesmos jogadores.
No entanto, no Mundial de 1966 em Inglaterra o Brasil teve alguns problemas com o treinador Vicente Feola. Além disso, Pelé estava lesionado, Garrincha cada vez mais velho, Djalma Santos na fase final da sua carreira e o capitão Bellini estava quase a chegar aos 40 anos. Com tudo isto, o Brasil acabou por ser eliminado na fase de grupos. Depois de um resultado aquém do esperado no Mundial de 1966, e apesar do regresso de Pelé após uma pausa, isso não foi o suficiente para melhorar a prestação do Brasil. A instabilidade na seleção brasileira era tão grande que entre 1966 e 1969 houve seis diferentes responsáveis à frente da seleção.
Em 1970, nas vésperas do Mundial no México, o treinador João Saldanha foi afastado da seleção e isto tornou as perspetivas para a seleção brasileira muito sombrias. No entanto, um golpe de mestre conseguiria inverter a tendência de declínio do Brasil, mas para isso eram necessárias novas ideias e para isso o Brasil recorreu ao treinador Botafogo Mário Zagallo para conduzir a seleção à vitória. Zagallo já tinha estado no Mundial como jogador em 1958 e 1962 e com apenas 38 anos era jovem o suficiente para ter boas relações com os melhores jogadores do Brasil.
Zagallo começou rapidamente a fazer mudanças na seleção e a reverter medidas tomas pelo treinador anterior e que ele descrevia como erros. A nova filosofia da seleção brasileira foi completamente reescrita e o foco voltou a ser as bases angulares do futebol brasileiro: habilidade, estilo, ostentação e paixão. Ao partilhar algumas ideias, Zagallo afirmou que “O que esta equipa precisa são grandes jogadores, jogadores inteligentes”, acrescentando que “Vamos com isso e ver onde nos leva”.
Qualificação para 1970 conseguida em grande estilo
Ao ficar em primeiro lugar no Grupo 2 do Mundial de 1970 frente ao Paraguai, Colômbia e Venezuela, o Brasil mostrou ao Mundo que estava de volta e desta vez era para ganhar, acabando por vencer os seis jogos que teve. Tostão e Pelé brilharam durante toda a competição e marcaram em conjunto 16 dos 23 golos do Brasil. Este sucesso foi também feito com a ajuda de Clodoaldo, Rivellino e Jairzinho.
O futebol jogado naquele tempo não se equipara ao de atualmente. Antes de o futebol se ter tornado o jogo dos números, centímetros e percentagens, e de utilizar superatletas que executam padrões gerados por computadores, escritos por especialistas em análise e cientistas de dados desportivos, era um futebol livre. Nesse tempo, cada jogador tinha a sua individualidade e juntos complementavam a equipa.
O Brasil de Zagallo começava a apresentar-se ao mundo e os adeptos ficavam cada vez mais convencidos de que o antigo Brasil vencedor estava de volta.
Do apuramento para o Mundial até à fase de grupos
A 3 de Junho, mais de 50,000 foram ao Estádio Jalisco em Guadalajara para assistir ao primeiro jogo do Brasil no Mundial de 1970. O Brasil não desiludiu e mostrou a sua força no jogo contra a Checoslováquia. Apesar de o Brasil ter começado a perder com um golo de Ladislav Petráš, conseguiu chegar ao empate com um golo de Rivellino antes do intervalo. Um golo de Pelé e dois de Jairzinho permitiram ao Brasil ganhar a 4-1.
A confiança do Brasil era tão grande que Pelé tentou marcar um golo do meio-campo e embora tenha falhado por pouco, a coragem de ter feito aquele remate foi um sinal de confiança que era visível em toda a seleção brasileira. Esse momento ficou conhecido como “o golo que Pelé não fez”.
O Brasil voltou a jogar em Guadalajara três dias mais tarde, desta vez contra a Inglaterra. A seleção sul americana ganhou 1-0 graças a um golo de Jairzinho já na segunda parte. Neste jogo teve lugar um episódio que ficou para a história do Mundial de futebol, o “Gordon Banks save”, o momento em que o guarda-redes inglês Gordan Banks defendeu uma cabeçada incrível de Pelé.
Já na fase seguinte do Mundial, o Brasil manteve o seu ritmo com a vitória a 3-2 sobre a Roménia no dia 10 de Junho, com Pelé a marcar dois golos e Jairzinho a marcar um. Foi com estas prestações incríveis que o Brasil passou para os quartos de final e o melhor ainda estava para vir.
Brasil passa às eliminatórias
O Brasil defrontou o Peru nos quartos de final no mesmo estádio que tinha jogado anteriormente. A seleção brasileira rapidamente chegou à vantagem com Rivellino a colocar o Brasil na frente ao minuto 11 com um remate incrível com o pé esquerdo. Apenas quatro minutos depois, Tostão marcou o segundo golo do Brasil. O avançado marcou mais um logo depois do intervalo e como se não bastasse, Jairzinho marca o quarto golo da seleção brasileira. O Peru conseguiu marcar dois golos, mas nunca chegou a ameaçar o Brasil que estava cada vez mais perto da glória.
A 17 de Junho o Brasil voltou ao Estádio Jalisco para enfrentar o Uruguai, a equipa que tinha eliminado a seleção brasileira em 1950 ao derrotá-lo na final do Mundial de 1950 no Rio de Janeiro. No entanto, 20 anos já tinham passado e esta nova geração de jogadores já não pensavam na vingança.
O Uruguai deu luta ao Brasil e mostraram-se bem preparado para o jogo, com uma defesa muito forte que estava de olho nos jogadores mais perigosos do Brasil. Um golo do jogador uruguaio Luis Cubilla aos 19 minutos deixou o Brasil para trás, mas antes do intervalo o Brasil conseguiu chegar ao empate com um golo de Clodoaldo. Este empate deu força ao Brasil, e na segunda parte do jogo teve uma prestação brilhante com um golo de Jairzinho e outro de Rivellino que deram a vitória de 3-1 ao Brasil.
Seguindo para a semifinal houve um momento icónico que ficou na história, quando Pelé enganou o uruguaio Ladislao Mazurkiewicz ao passar por ele com a bola sem tocar nela. O brasileiro voltou a tocar na bola já após esta ter passado pelo guarda-redes, mas acabou por não conseguir marcar o que teria sido o golo mais espetacular do Mundial.
A final do Mundial de 1970
O Brasil chegou à final do Mundial de 1970 e estava preparado para o derradeiro jogo. Desta vez o jogo teria lugar no Estádio Azteca, na Cidade do México, contra a Itália e eram esperados mais de 100,000 adeptos.
Este jogo não era um confronto de apenas duas equipas, mas também era um confronto entre o futebol de arte o futebol de resultado, duas técnicas diferentes no mundo do futebol. Se por um lado o Brasil apresentava uma estratégia mais livre, por outro, a Itália seguia a técnica Catenaccio, conhecida mundialmente pelas suas características defensivas e pelo pragmatismo.
O Brasil conseguiu marcar logo aos 18 minutos com um cruzamento de Rivellino completado com um cabeceamento de Pelé, que marcou assim o seu 100º golo com a camisola do Brasil.
Ao minuto 37, Roberto Boninsegna conseguiu empatar o jogo e assim ficou até à segunda parte. O Brasil sabia que era necessário usar a segunda parte para dar tudo o que tinha se queria vencer o Mundial e foi isso que fez. Pelé perdeu uma oportunidade de recuperar a liderança depois de Rivellino ter preparado o terreno para um golo, no entanto, Gerson colocou o Brasil na vantagem ao minuto 65.
Apenas seis minutos depois, um passe de Gerson para Pele levou a bola até Jairzinho, que acabou por marcar ao minuto 71. Este golo de Jairzinho tornou-o o único jogador de sempre a marcar em todas as fases do Mundial. Com a segurança de ter dois golos de vantagem, a seleção brasileira ficou mais à vontade e já não ambicionava marcar. Apesar disso, com apenas dois minutos restantes para o fim do jogo, o Brasil marcou novamente e este não foi um golo qualquer. Este golo envolveu nove passes, incluindo jogadores como Clodoaldo, Gerson e Jairzinho e foi finalizado por Carlos Alberto. O golo foi uma sequência brilhante de trabalho em equipa e de cooperação entre os jogadores brasileiros e ainda é considerado o melhor golo alguma vez marcado num Mundial de Futebol.
O jogo terminou com quatro golos do Brasil e um da Itália e foi assim que o Brasil ganhou o Mundial de futebol pela terceira vez.
Grandes números, grandes recordes
Neste mundial, o Brasil e os seus jogadores bateram vários recordes. O Pelé contou com seis assistências no Mundial, estabelecendo assim um novo recorde. O treinador Mário Zagallo tornou-se o primeiro a ganhar o troféu como jogador e treinador, e, além disso, tornou o Brasil a primeira equipa desde os anos 30 a ganhar todos os jogos até chegar à final. Foram seis as vitórias durante a fase de qualificação e seis as vitórias durante a competição.
O Brasil marcou em média 3,2 golos por jogo no Mundial de 1970, uma média apenas superada pela Hungria em 1982, cujos números só foram superiores aos do Brasil por um triunfo estrondoso de 10-1 contra o El Salvador.
Consciente de que tinha atingido o auge da sua carreira, Pelé deixou o futebol internacional em 1971. A equipa que o Brasil levou ao México no Mundial de 1970 é até hoje conhecida como o Canarinho de Zagallo, que permanece na história do Mundial de futebol e também na mitologia do futebol internacional como a melhor equipa a ter jogado nesta competição.
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