Histórias do Mundial: Inglaterra x RFA, a bola realmente entrou na baliza? (1966)
- Updated: 06/11/2022
O Mundial de 1966 decorreu na Inglaterra e isso foi um sonho para os adeptos ingleses. A jogar em casa, a Inglaterra acabou por chegar à final e venceu o troféu, por isso, este Mundial ficará para sempre na memória dos britânicos como a melhor de sempre. Esta foi a única vez que a seleção nacional inglesa conseguiu ganhar o Mundial, e desde então, não voltaram a conseguir chegar à final. Dada a importância e magnitude desta vitória, os jogadores da seleção foram considerados heróis nacionais.
Foram surgindo muitas histórias interessantes durante este mundial, mas há 2 que têm mesmo de ser partilhadas. Elas estão relacionadas com o que é agora conhecido como o “árbitro russo”, bem como com o famoso comentário que ocorreu momentos antes do golo vencedor, do qual falaremos a seguir.
Estas 2 histórias marcaram o mundial e tornaram-se lendas que têm sido contadas de geração em geração. Vamos dar o pontapé de saída deste artigo percorrendo, em primeiro lugar, a história do famoso árbitro russo.
Tofiq Bahramov, o árbitro assistente russo
Bahramov iniciou a sua carreira como jogador de futebol, mas acabou por perceber que o seu percurso profissional seria como árbitro assistente. Acreditando ou não, a verdade é que esta lenda é baseada numa mentira visto que na realidade Bahramov não era russo, mas azerbaijanês. Ele nasceu em 1925 no Azerbaijão, que na altura era parte da União Soviética, daí que ele tenha sido apelidado como o “árbitro assistente russo”.
Quando a Inglaterra jogou contra a Alemanha Ocidental em Wembley em 1966, Bahramov era um dos árbitros assistentes. Ele era o responsável por decisões como os fora de jogo, mas também decidir se uma bola tinha ou não cruzado a linha de golo. O jogo decorria com normalidade e ao minuto 90 a Inglaterra e Alemanha Ocidental estavam empatadas a 2-2. O jogo seguiu para prolongamento, e no 3-2 dos ingleses, Geoff Hurst marca o segundo golo do jogo, mas não é claro se a bola ultrapassou a linha de golo, algo que o guarda-redes sempre disse que não.
A bola bateu na trave e pisou a linha de golo e a Inglaterra celebrou como se tivesse sido claro que a bola tinha entrado. O árbitro não tinha a certeza se a bola tinha cruzado a linha ou não, por isso foi consultar Bahramov que disse ao árbitro que, na sua opinião, a bola tinha passado a linha por completo e que deveria ser golo. Com esta confirmação o árbitro apitou e deu o golo à Inglaterra, e Bahramov ficou então conhecido como o “Russian linesman”, que em português significa o árbitro assistente russo.
As frases de Kenneth Wolstenholme que ficaram para sempre na história do futebol
A história de Bahramov é apenas uma parte desta lenda que contamos aqui. Há uma outra história que importa falar: o momento em que a Inglaterra conquistou o troféu. Como tinha mencionado anteriormente, este jogo continuou para o tempo extra, e isso é um dado importante nesta história.
A final entre a Inglaterra e a Alemanha Ocidental aconteceu no dia 30 de Julho de 1966 e foi vista por mais de 30 milhões de espectadores através da televisão. Kenneth Wolstenholme, era um dos comentadores que cobria o jogo para a BBC e nem sabia ir ficar para a história ao criar uma das frases mais famosas da história do desporto, especialmente no Reino Unido.
Nos segundos finais do jogo, a Alemanha estava a tentar empatar e ansiava pelo terceiro golo. Quando a Alemanha estava a caminho da baliza adversária, acaba por perder a bola para a Inglaterra. É neste momento que Bobby Moore, que se encontrava na área de defesa da Inglaterra, passa a bola para Geoff Hurrst com um passe de longo alcance. Com os defesas alemães todos na frente, Hurst estava essencialmente com a baliza livre para marcar. No momento em que estava a avançar com a bola, os adeptos já tinham começado a correr das bancadas para o banco porque pensavam que o jogo já tinha terminado. É nesse momento que o comentador Wolstenholme diz uma frase que ficou na história: “Here comes Hurst. He’s got, some people are on the pitch”, que em português significa “Aí vem Hurst. Ele tem, algumas pessoas estão no campo”.
Ficou claro que Wolstenholme estava distraído com toda a confusão que estava a acontecer em campo e disse “They think it´s all over. It is now”, que significa “Eles pensam que está tudo acabado. Agora já acabou”. E foi assim Wolstenholme disse uma frase que ficou na história do futebol no Reino Unido e uma das mais usadas ao longo do tempo.
A visão geral do jogo entre a Inglaterra e a Alemanha Ocidental
É claro que a lenda do árbitro assistente russo e esta famosa frase de Wolstenholme são coisas que as pessoas falam a propósito da final do Mundial de 1966. Mas o jogo em si também foi fantástico, e é por isso que também vamos falar um pouco sobre este jogo.
As duas equipas que agora se defrontavam na final do Mundial tinham sido as mais fortes ao longo da competição, sendo que, a Alemanha Ocidental era considerada a mais provável de ganhar o Mundial. No entanto, como a Inglaterra jogava em casa havia sempre a hipótese de ganhar.
O jogo começou com um golo do alemão Helmut Haller logo aos 12 minutos. A Inglaterra continuou a dar luta e ao minuto 18, ganharam um livre perto da baliza da Alemanha Ocidental. Bobby Moore chutou a bola e Geoff Hurst finalizou a jogada com um golo de cabeça que levou a Inglaterra ao empate. O início do jogo foi cheio de ação, mas após este golo, é preciso esperar até ao minuto 78 para que o terceiro golo da partida seja marcado.
Aos 78 minutos, o jogador inglês Alan Ball, fez um pontapé de canto que com a assistência de Martin Peters conseguiu chegar à baliza e colocar a Inglaterra em vantagem. Ao marcar quase no fim do jogo, muitos pensaram que 2-1 seria o resultado final, mas os alemães contra-atacaram e conseguiram chegar ao empate no minuto 89, quando Wolfgang Weber conseguiu furar a defesa inglesa e marcar o segundo golo da Alemanha Ocidental.
O tempo extra e os últimos minutos na luta pelo título
Os nervos e o cansaço começaram a ser visíveis logo no início do tempo extra, no entanto, era notória a motivação da Inglaterra que passou os primeiros 5 minutos sempre no ataque. Bobby Charlton numa tentativa quase bem-sucedida acabou por bater com a bola no poste. Aos 11 minutos de tempo extra a Inglaterra conseguiu marcar ou pelo menos foi considerado golo oficialmente. Foi aqui que o árbitro assistente interveio e a sua opinião acabou por fazer com que o árbitro considerasse o golo válido e desse uma vantagem de 3-2 à Inglaterra.
Com a Alemanha Ocidental a perder, os jogadores alemães foram forçados a pressionar cada vez mais a zona de defesa britânica para conseguir chegar ao empate. Esta estratégia acabou por não correr bem, porque como toda a equipa estava concentrada no ataque à Inglaterra, a zona de defesa ficou desprotegida e foi assim que Hurst marcou o golo final e aumentou a vantagem inglesa para 4-2, momentos antes de o jogo acabar.
A bola atravessou mesmo a linha?
O terceiro golo marcado pela Inglaterra gerou dúvidas sobre se realmente a bola tinha passado a linha ou não, e isto gerou um debate mundial. A resposta oficial só chegou algumas décadas depois, isto porque não havia tecnologia disponível para responder com certeza a esta questão. A conclusão que foi apresentada mais tarde e diz que apenas 97% da bola atravessou a linha, o que significa que não era golo. Isto porque, no futebol, a bola inteira tem de atravessar a linha para ser considerado golo.
No entanto, quando naquele momento foi necessário determinar se tinha sido golo sem qualquer tecnologia que pudesse ajudar na decisão, é preciso reconhecer que é normal que tenham pensado que a bola inteira tenha atravessado a linha. A verdade é que Bahramov não pode ser culpado pela sua decisão e acabou por estar 97% certo.
É certo que a opinião das pessoas sobre se a decisão de Bahramov era correta ou não dependia da equipa que apoiavam, por isso ele foi amado e odiado por muitos. O facto é que Bahramov foi a razão pela qual o golo foi considerado válido e que ajudou a que a Inglaterra conseguisse ganhar o Mundial de 1966.
Para quem acredita em karma e ache que o golo não devia ter sido contabilizado, poderá dizer que foi feita justiça no Mundial de 2010. Num jogo entre a Alemanha e a Inglaterra, o jogador inglês Frank Lampard remata e a bola bate na parte superior da baliza e mesmo que a bola ao cair tenha passado a linha, o golo nunca foi atribuído. A forma como a bola bateu na barra e criou a dúvida sobre se era golo ou não é muito similar nas duas situações e há quem diga que foi a história que voltou a repetir-se.
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