Com o Mundial de 2022 no Qatar em disputa, olhamos para os momentos que marcaram o Mundial de futebol e que permanecem até hoje na nossa memória, sejam eles bons ou maus.
Para quem não sabe, Les Bleus é a alcunha da seleção nacional francesa. Traduzido, é literalmente ‘Os Azuis' e claro que isto está relacionado com a cor do equipamento usado nos jogos da seleção, que como a maioria das nações está associado às cores da bandeira do seu país – azul, branco e vermelho. Apesar de no Mundial de 1978 terem usado essas cores, houve um jogo em que tiveram de jogar de equipamento verde e branco, uma situação que fica para a história.
Esta foi a primeira vez que a seleção nacional francesa jogou sem usar as cores da sua bandeira. Neste artigo vamos falar das razões que levaram a França a jogar um com equipamento diferente, sendo considerada uma razão um pouco caricata e algo que muitas pessoas pensariam que nunca aconteceria, dado o prestígio do Mundial de futebol.
A verdade por detrás desta história – passo a passo
Antes de começarmos a falar sobre as razões que levou a França a usar um equipamento diferente do habitual, vamos apresentar o contexto.
No Mundial de 1978, o terceiro jogo da França na fase de grupos foi contra a Hungria, mas como tinham perdido os dois primeiros jogos, já não se conseguiam qualificar mesmo que ganhassem. A verdade é que a França ganhou mesmo o jogo por 3-1, mas apesar da vitória não avançou para a fase eliminatória da competição. A vitória não foi tão memorável como as camisolas que tiveram de usar durante o jogo e já vamos perceber o porquê.
A mudança do equipamento foi causada devido à televisão ser a preto e branco
Em 2022, a ideia de mudar as cores do equipamento devido à televisão não ter cor e ser a preto e branco pode causar alguma estranheza para o leitor, mas a verdade é que este foi um grande problema até que as televisões a cor começaram a ser mais utilizadas.
Há 44 anos, na altura do Mundial de 1978, que teve lugar na Argentina, a maioria das casas que tinham televisão viam tudo a preto e branco, e essa foi a principal razão que levou à mudança das cores do equipamento da seleção francesa de futebol.
A seleção francesa ia jogar com uma camisola azul enquanto os húngaros iam jogar com uma camisola vermelha, e a FIFA estava consciente da forma como os espetadores viam os jogos em casa, por isso perceberam haver grande dificuldade em distinguir os equipamentos das duas seleções para quem via o jogo a preto e branco.
Como as camisolas das duas seleções tinham uma cor escura, foi preciso mudar o equipamento de uma das seleções para resolver esta situação. A FIFA decidiu que iria pedir à França para mudar o seu equipamento e foi aqui que os problemas começaram.
O erro administrativo que causou um grande problema
A FIFA tinha pedido apenas à França para alterar o seu equipamento neste jogo, mas no dia da partida entre a França e a Hungria ambas as seleções aparecerem com camisolas brancas. Claro que se jogassem assim os espetadores não conseguiriam distinguir as equipas em jogo por isso a partida só podia começar quando esta situação fosse resolvida.
Isto aconteceu devido a um erro administrativo do supervisor da equipa francesa, o que significou que a França foi para o jogo com as camisolas erradas. Tendo em conta que o erro foi da equipa francesa, foram eles a ter de resolver esta situação. A única forma de resolver este problema era arranjar um equipamento diferente para este jogo e conseguir fazê-lo a menos de uma hora do início. Nesse momento, viveu-se um momento de grande tensão e nervosismo enquanto não conseguiram encontrar um equipamento de substituição.
Como arranjar um equipamento de substituição em menos de uma hora?
Como já vimos, não era possível as duas equipas jogarem com os equipamentos semelhantes, por isso a França continuava a procurar uma alternativa. Dado que o jogo estava quase a começar, a França teve de pensar fora da caixa para conseguir equipamento para toda a seleção em poucos minutos. A solução mais rápida para resolver esta situação foi então contactar o clube local mais próximo para emprestar as suas camisolas. Acabaram por contactar o Club Atlético Kimberley que jogava com equipamento verde e branco, e o clube aceitou, mas ainda demorou algum tempo para que as camisolas fossem recolhidas e trazidas para o estádio em que decorria o jogo.
Para quem pensa que a situação ficou resolvida está muito enganado. É verdade que a seleção francesa conseguiu um equipamento diferente da equipa da Hungria, mas também é verdade que as novas camisolas não tinham o número e nome dos jogadores. Afinal, as camisolas deveriam identificar os jogadores através de um número e isso causou outro problema para a França.
Uma hora para engomar os números dos jogadores nas camisolas
Como foi dito acima, conseguir o equipamento alternativo e trazê-lo para o estádio ainda demorou algum tempo e, além disso, foi preciso lidar com outro problema: as camisolas não tinham os números dos jogadores. Por isso, os responsáveis pelo equipamento da seleção francesa tiveram de engomar todos os números nas camisolas de cada jogador para que o jogo pudesse começar. Isso levou cerca de uma hora para que a engomagem tivesse completa e o equipamento pronto, por isso o jogo teve de ser atrasado 40 minutos e no estádio era bem visível a irritação dos adeptos.
Apesar da irritação dos adeptos que estavam à espera impacientemente na bancada, a verdade é que se lhes perguntássemos se preferiam ver o jogo sem números nas camisolas provavelmente diriam que não. Assim, é admirável o esforço feito pelos responsáveis do equipamento da seleção francesa que conseguiram encontrar uma alternativa e depois colocar os números nas camisolas num espaço de tempo relativamente curto.
A verdade é que este novo equipamento parece ter dado sorte à França, já que foi o único jogo que conseguiram vencer no Mundial de 1978.
Há mais exemplos de situações semelhantes?
Surpreendentemente, esta não foi a primeira nem a última vez que foi preciso utilizar um equipamento alternativo para um jogo no Mundial de futebol. Ao longo da história do Mundial, há mais três exemplos de equipas forçadas a usar equipamento diferente por ser demasiado parecido ao da equipa adversária.
Este artigo já apresentou uma dessas situações, mas já que estamos aqui a falar sobre este tema vamos então explorar as restantes.
Mundial de 1934
Logo na segunda edição do Mundial de Futebol, em 1934, surgiu o primeiro problema deste tipo, quando a Alemanha deveria jogar contra a Áustria na disputa pelo terceiro lugar na competição. As duas seleções usavam camisolas brancas no Mundial desse ano e, após lançarem uma moeda para resolver a situação, calhou à Áustria mudar o seu equipamento naquele jogo. No entanto, tal como a França no Mundial de 1978, a Áustria não tinha um equipamento de substituição disponível no momento, por isso tiveram de improvisar. Como o jogo teve lugar no estádio do Nápoles, tiveram a sorte de poder utilizar o equipamento do clube da casa e o problema ficou resolvido rapidamente.
No entanto, a Áustria acabou por perder o jogo por 3-2, por isso o equipo alternativo acabou para não lhes dar muita sorte nesse dia.
Mundial de 1950
Desde esse problema em Nápoles, foi preciso ir até ao Mundial de 1950 para encontrar uma situação semelhante. O Mundial de 1950 teve lugar no Brasil, e o incidente aconteceu entre a Suíça e o México quando se defrontaram na cidade de Porto Alegre. Visto que ambas as seleções usavam equipamento escuro, foi preciso alterar o equipamento de uma das equipas, e calhou ao México resolver esta situação. A seleção mexicana acabou por pedir emprestado o equipamento do Cruzeiro, um clube local.
O novo equipamento não trouxe sorte ao México tal como aconteceu aos franceses, pois acabaram por perder o seu último jogo do grupo por 2-1.
Mundial de 1958
Em 1958, o Mundial de futebol teve lugar na Suécia e foi aqui que mais um problema surgiu devido aos equipamentos das equipas que iam jogar. No jogo que opôs a Alemanha e a Argentina, surgiu um problema com os equipamentos que tinha de ser resolvido. Ao contrário das outras situações, desta vez o problema não era as cores das camisolas, mas sim as riscas. Tal como nos exemplos anteriores, foi uma equipa local que salvou o dia. O clube IFK Malmö emprestou as suas camisolas amarelas à Argentina para o jogo, que acabou com uma derrota da Argentina contra a Alemanha Ocidental por 3-1.
