Histórias do Mundial: O ritual de urinar de Goychochea
- Updated: 03/12/2022
Com o Mundial de 2022 no Qatar a ser disputado, olhamos para os momentos que marcaram o Mundial de futebol e que permanecem até hoje na nossa memória, sejam eles bons ou maus.
As superstições existem em todo o lado e estão mais ligadas ao mundo das artes, mas também podem ser encontradas em todos os desportos. Estes rituais podem ser mais ou menos estranhos, individuais ou em conjunto. No entanto, alguns rituais são tão singulares que se tornaram em lendas. Isto acontece com Sergio Goycochea, um guarda-redes argentino que representou o seu país no final dos anos 80 e início dos anos 90. Como pode perceber pelo título, o seu ritual não envolvia uma refeição específica, rotina matinal, ou qualquer coisa parecida.
Em vez disso, o ritual envolveu urinar no campo antes dos penáltis. Isso é o que Goycochea costumava fazer, afirmando que iniciou o ritual durante o Mundial de 1990 e que foi jogado no seu país natal, a Argentina. Há quem brinque e diga que Goycochea estava apenas a marcar o seu próprio território. Foram feitas muitas piadas sobre esta situação comparando muitas vezes Goycochea a um cão que urina para marcar território.
Seja qual for a sua opinião, por mais bizarro que este ritual fosse parecia funcionar. Goycochea conseguiu ajudar a Argentina a ganhar nos penáltis do Mundial de 1990 em duas situações: nos quartos de final contra a Jugoslávia, e fê-lo novamente nas semifinais contra a Itália. A única razão pela qual ele não o fez na final foi porque o jogo não chegou aos penáltis.
Além desta visão geral sobre o seu ritual vamos explorar melhor quem é este jogador.
Quem é Sergio Goycochea?
Como já foi dito, Sergio Goycochea foi um guarda-redes argentino que nasceu em 1963 na capital argentina. Logo aos 18 anos garantiu o seu primeiro lugar numa equipa de futebol profissional, sendo que o seu talento foi reconhecido bem cedo. Ao longo da sua carreira, Goycochea esteve em vários clubes de futebol, entre os quais destacamos o River Plate, Millonarios e o Racing Club. Foi em 1987, numa altura em que jogava pelo River Plate, que recebeu a convocação para representar a Argentina em competições internacionais.
Em 1981 e ainda antes de ser convocado, Goycochea já tinha representado a Argentina na seleção sub-20. O jogador demorou algum tempo a entrar na equipa sénior, motivo que pode ser justificado pelo facto de a Argentina não ter na altura falta de jogadores e o seu plantel ter um nível de qualidade muito elevado.
Tendo sido convocado, o jogador rapidamente se tornou o guarda-redes principal da Argentina. Ele teve a oportunidade de participar em dois Mundiais de futebol e jogou com a camisola argentina entre 1987 e 1994.
Goycochea representou o seu país no Mundial de 1990 e 1994, embora o Mundial de 1990 tenha sido onde nasceu a sua história lendária. Não só se revelou fundamental na chegada da Argentina à final, mas o seu ritual de urinar em campo também nasceu neste campeonato. Assim, ele não só foi reconhecido como um herói na Argentina na altura, como recebeu reconhecimento global por realizar um dos rituais mais bizarros alguma vez vistos.
O ritual de urinar antes dos penáltis explicado
Existem alguns mitos em torno deste ritual, como ele surgiu, e o como foi feito em frente a toda a gente. Vamos então analisar melhor este ritual, desvendar os mitos e entender a verdadeira história.
Como é que este ritual surgiu?
O Mundial de 1990 foi um sucesso para a Argentina. A seleção sul-americana acabou por chegar à final, mas perdeu contra a Alemanha Ocidental. Apesar de não ter ganho, o facto de terem conseguido chegar à final de um Mundial de futebol já foi um grande feito. Foi neste Mundial que surgiu o ritual, especificamente num jogo contra a Jugoslávia nos quartos de final.
Goycochea nem sempre teve este ritual, começou e terminou em 1990 durante o Mundial em Itália, não sendo um ritual que fosse fazendo ao longo da sua carreira, mas sim num momento específico. Quando o fez antes dos penáltis contra a Jugoslávia pareceu funcionar. A Argentina venceu o jogo com 3 penáltis marcados contra 2 sofridos.
A primeira vez foi por necessidade
Um dos outros mitos associados a este ritual foi o porquê e a resposta é simples: antes dos penáltis contra a Jugoslávia, Goycochea precisava urgentemente de ir à casa de banho, mas não havia tempo. Além disso, poderia quebrar o foco, assim como a ligação com o próprio jogo. Por isso, em vez de deixar o campo para ir à casa de banho, uma vez que estava desesperado, ele entrou em campo antes do início dos penáltis e fez o que tinha a fazer. Desta forma poupou tempo, garantiu estar concentrado no jogo e no momento dos penáltis estava 100% focado na defesa.
Se formos honestos, a verdade é que todos nós já passámos por situações parecidas. Quando se tem de ir é impossível concentramo-nos em outra coisa, por isso Goycochea acabou por fazer o melhor para ele e para a equipa. O jogador decidiu então que apesar do risco de ser visto por milhões de pessoas isso valia a pena tendo em conta o que estava em jogo.
A segunda vez foi por superstição
Quando Goycochea urinou no relvado antes dos penáltis com a Jugoslávia recebeu muita atenção da imprensa internacional, tal como era esperado. Se nesse caso ele o fez por estar muito aflito, desta vez decidiu fazê-lo por superstição.
A Argentina foi novamente a penáltis, desta vez com a Itália. Goycochea não estava desesperado por ir à casa de banho, no entanto, o jogador argentino tomou a iniciativa de urinar novamente no relvado.
A verdade é que este ritual acabou por dar resultados positivos para a Argentina, pois conseguiu vencer a Itália por 4-3 nos penáltis, e mais uma vez, Goycochea foi o herói da equipa. Os seus colegas de equipa e até os fãs não estavam minimamente importados com o ritual de urinar em campo e acabou por não ter grande importância. Goycochea dizia que este era o seu ingrediente secreto para o sucesso por isso mais-valia não dizer nada e deixá-lo continuar.
Como é que ele urinou no relvado?
Quando se lê que Goycochea urinou no relvado passa-nos pela cabeça todo o tipo de imagens. Ao contrário do que se possa pensar, ele não urinou de pé em frente a toda a gente. Goycochea conseguia que a equipa o rodeasse enquanto ele se ajoelhava junto aos postes da baliza e urinava pela parte de baixo dos seus calções. Desta forma, não teve de se expor diante de milhares de adeptos no estádio assim como milhões de adeptos a ver pela televisão. Isto também serve para refutar um outro mito que dizia que o jogador urinava para dentro dos seus calções.
Todos nós sabemos como os rumores podem ser exagerados e que isso acaba por dar origem a mitos que são mais fantasia do que realidade. No entanto, o facto de ele urinar antes dos penáltis torna este hábito num dos rituais mais estranhos que já foram vistos na história do futebol. Contudo, é de louvar a sinceridade de Goycochea que nunca tentou negar os seus rituais.
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