Histórias do Mundial: Quando Diego Maradona levou a Argentina à vitória
- Updated: 05/12/2022
Com o Mundial de 2022 no Qatar em dispua, olhamos para os momentos que marcaram o Mundial de futebol e que permanecem até hoje na nossa memória, sejam eles bons ou maus.
O Mundial de 1986 foi extraordinário e contou com golos fenomenais, jogadores de topo e novas seleções que participaram no Mundial de futebol pela primeira vez: o Canadá, a Dinamarca e o Iraque. A Onda Mexicana apareceu pela primeira vez neste mundial e desde então tem continua a marcar presença nas competições internacionais. O Mundial de 1986 foi jogado no México e teve uma final memorável no Estádio Azteca.
Este foi também o Mundial em que Diego Maradona surpreendeu todo o mundo com o seu talento. O argentino teve uma das maiores prestações individuais de todos os tempos num Mundial de futebol. O avançado já tinha deixado a sua marca no Mundial anterior ao marcar dois golos em 1982 no Mundial que se realizou em Espanha. Apesar disso, a seleção argentina só conseguiu chegar à segunda fase de grupos, eliminada da competição após perder com o Brasil e a Itália.
Em 1986 Maradona voltava em grande e desta vez como capitão da seleção argentina que procurava o segundo troféu num mundial, após ter conseguido ganhar em casa oito anos antes. Na altura, Mario Kempes foi o herói argentino ao marcar seis golos o que impulsionou a chegada e vitória da Argentina no Mundial, assim como o apoio dos argentinos que queriam ver a sua seleção triunfar em casa. A responsabilidade estava agora com Maradona e a verdade é que ele não desiludiu.
Maradona impulsiona a Argentina nas fases de grupo
A Argentina teve um início tímido e até complicado no Mundial de 1986. Fazia parte do grupo A com a Bulgária, Coreia do Sul a Itália, campeões do Mundial de 1982.
A Bulgária iniciou o Mundial com um empate a 1-1 contra a Itália e a Argentina estava determinada a não perder. Ganhou por 3-1 à Coreia do Sul num jogo que apesar de não ter golos de Maradona foi o maestro do jogo. O avançado argentino ajudou os jogadores da equipa a chegarem ao golo, não pensando só em si quando tinha a bola do seu lado, mas sim no que era melhor para a equipa.
No jogo entra a Itália e a Argentina, Maradona conseguiu marcar um golo depois de Alessandro Altobelli ter colocado a Itália à frente logo no início do jogo com um penálti. Assim, o jogo terminou com um empate a 1-1.
Ao ganhar o jogo contra a Bulgária por 2-0, a Argentina subiu ao pódio do seu grupo graças aos golos de Valdano e Jorge Burruchaga. Mais uma vez, apesar de não ter sido Maradona a marcar, ele brilhou em campo com a sua prestação e estava a caminho de se tornar o melhor jogador da competição.
O caminho para a final do Mundial
Quando a Argentina chegou aos oitavos de final, encontrou o Uruguai. Pedro Pasculli marcou o único golo da partida e deu a vitória à Argentina. O jogo seguinte entre a Argentina e a Inglaterra foi mais interessante e contou com um momento memorável que ficou na história do Mundial.
Com a vitória da Inglaterra contra o Paraguai por 3-0, a Argentina de Maradona acabou por encontrar a seleção inglesa nesta competição. Este foi um encontro já há muito tempo aguardado entre dois velhos inimigos, que estavam determinados a continuar com a rivalidade que tinha começado há 20 anos quando as duas seleções defrontaram-se nos quartos de final no Mundial de 1966.
Nesse jogo de 1966 no estádio de Wembley, o capitão argentino Antonio Rattin recebeu o cartão vermelho num jogo muito intenso. O argentino estava insatisfeito com a decisão do árbitro alemão, Rudolf Kreitlein, e a sua raiva foi crescendo quando o treinador inglês, Alf Ramsey, continuou a descrever a seleção argentina como animais.
Claro que também havia assuntos não relacionados com o futebol misturados com a rivalidade, como o conflito em torno das Ilhas Malvinas a atingir um momento de elevada tensão em 1982, apenas quatro anos antes do jogo no México.
A Mão de Deus
No dia 22 de junho de 1986 só se falava do jogo entra a Argentina e a Inglaterra. O jogo começou de forma calma, mas aos 51 minutos começou a ganhar vida no momento em que a Argentina chega à grande área inglesa e o jogador inglês Steve Hodge entrou na grande área para evitar um golo. Maradona percebeu que esta era a sua oportunidade e saltou à frente do guarda-redes inglês Peter Shilton e atirou a bola para a baliza com a sua mão.
Para desânimo e raiva da Inglaterra, o golo foi permitido, com Maradona apenas a admitir a sua proeza depois do jogo, dizendo que o golo foi marcado “un poco con la cabeza de Maradona y otro poco con la mano de Dios“, que em português significa “um pouco com a cabeça de Maradona e um pouco com a mão de Deus”. E assim, nasceu a Mão de Deus.
Enquanto o primeiro golo de Maradona foi esteve envolvido em polémica, o segundo não deixou margem para dúvidas com o avançado argentino a ganhar a bola no meio de campo e correr para a grande área inglesa como se estivesse num labirinto.
No espaço de 68 metros, Maradona conseguiu passar com a bola por quatro jogadores ingleses: Peter Beardsley, Peter Reid, Terry Butcher e Terry Fenwick. Conforme analisado pela FIFA, o avançado argentino fez 11 toques em 11 segundos, correndo para a grande área de forma triunfal e conseguindo passar pelos oponentes. Ele terminou a jogada com uma finta a Shilton e depois rematou e acertou precisamente na baliza inglesa.
16 anos mais tarde, como parte das celebrações do Mundial de 2002, este momento mágico de Maradona foi votado pela FIFA como o golo do século.
A Argentina ganha o Mundial de 1986
Apenas quatro minutos separaram os dois golos de Maradona que deixaram a Inglaterra chocada. Gary Lineker ainda conseguiu dar um golo à Inglaterra, mas não era suficiente para evitar a eliminação da seleção inglesa.
O jogo seguinte foi opôs a Argentina e a Bélgica e Maradona voltou a brilhar, conseguindo um duplo golo nas meias-finais, tal como tinha conseguido no jogo anterior contra a Inglaterra. Desta vez, apenas 12 minutos separaram os seus dois golos e embora não tenham sido tão impressionantes e polémicos como os do jogo anterior, estes dois golos do avançado argentino garantiram um lugar na final do Mundial contra a Alemanha Ocidental.
Mais de 100.000 adeptos foram ao Estádio Azteca assistir à final do Mundial de 1986 com Maradona como a principal atração. Apesar de o foco da Alemanha Ocidental ter sido bloquear Maradona, o jogador conseguiu mais uma vez ter uma exibição memorável, levou a sua equipa à vitória. Mesmo com um número recorde de faltas contra o avançado argentino, parecia que o destino já tinha reservado o troféu para a seleção argentina. O jogo terminou a 3-2 e os fãs ficaram radiantes em ver Maradona a agarrar no troféu de campeão de mundial.
Neste Mundial, Maradona jogou todos os jogos e todos os minutos, conquistando o respeito de todas as pessoas que assistam aos jogos, quer sejam fãs, treinadores ou mesmo jogadores da equipa adversária.
Com seis golos marcados durante o Mundial, o inglês Gary Lineker terminou o Mundial de 1986 com a Bota de Ouro, mas foi Maradona que levou a Bola de Ouro pelas suas fenomenais exibições. Ele é um dos dois argentinos que já receberam este prémio, com Lionel Messi a seguir os seus passos em 2014. A estrela do PSG procura replicar as conquistas de Maradona e vencer o mesmo título este ano no Mundial do Qatar.
Os últimos anos de Maradona na seleção Argentina
Maradona participou em mais dois Mundiais de futebol e ambas como capitão. Na primeira conseguiu chegar à final novamente com a Alemanha Ocidental, mas desta vez o encontro teve lugar em Itália. O avançado argentino tinha uma lesão no joelho que não o permitiu de estar a 100% em todo o Mundial e isso notou-se no seu desempenho. A equipa acabou por perder por 1-0 contra a Alemanha Ocidental em Roma na final do Mundial de 1990.
Seguiu-se o Campeonato do Mundo dos EUA 1994, mas a sua presença no torneio foi ofuscada por problemas fora do campo. Após dois jogos, o avançado não passou no teste de drogas e teve de abandonar o Mundial.
O primeiro jogo foi contra a Grécia e acabou por ser o jogo com o último golo de Maradona pela Argentina. A sua última aparição com a camisola da seleção argentina foi no jogo seguinte contra a Nigéria. Maradona terminou assim a sua carreira internacional aos 17 anos, com 34 golos em 91 jogos.
Desde essa altura, o Messi foi sem dúvida o único jogador que conseguiu despertar sentimentos semelhantes aos adeptos argentinos e fazer lembrar os tempos de Maradona. A lenda brasileira Pelé foi outro jogador que exibiu os seus talentos extraordinários no futebol, assim como o ex-jogador do Manchester United e da Irlanda do Norte George Best. Mas talvez nenhum deles tenha tido a influência que Maradona teve nos adeptos argentinos e de todo o mundo. Com a sua morte em 2020 ficou visível mais uma vez a sua popularidade na comunidade futebolística em todo o mundo.
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