Com o Mundial de 2022 no Qatar a ser disputado, olhamos para os momentos que marcaram o Mundial de futebol e que permanecem até hoje na nossa memória, sejam eles bons ou maus.
As regras no futebol são bastante simples: se um jogador comete uma infração que seja visível, é-lhe dado um cartão amarelo como advertência. Se o jogador cometer outra infração, ele recebe outro cartão amarelo que resulta num cartão vermelho e neste caso, o jogador é expulso do jogo. Há um caso curioso que só aconteceu uma vez em toda a história do Mundial de futebol em que um jogador recebeu três cartões amarelos. O motivo foi muito simples: um erro do árbitro Graham Poll.
Apesar de ser um árbitro de sucesso na Premier League e de ter uma carreira de mais de 25 anos, será para sempre recordado como “aquele tipo que distribuiu três cartões amarelos”. Além de ser um erro grave, teve mais impacto porque aconteceu numa competição com a dimensão do Mundial de futebol. Este episódio teve lugar no Mundial de 2006 durante o último jogo da fase de grupos entre a Austrália e a Croácia e ficou para sempre na memória dos fãs.
As duas seleções enfrentaram-se para se qualificarem para os oitavos de final. O jogo acabou por terminar empatado a 2-2 e foi suficiente para a Austrália se qualificar. O resultado deste jogo acabou por não criar grandes problemas ao ser a Croácia que beneficiou da não expulsão de um dos seus jogadores quando recebeu o segundo amarelo.
Vamos então entrar nos detalhes e perceber o que aconteceu neste jogo.
Graham Poll, um árbitro de referência
O árbitro que ficou no centro das atenções por assinalar três cartões amarelos é Graham Poll e antes de mais, é importante falar dele de forma positiva. Afinal, ele é um dos árbitros mais decorados e respeitados do mundo, pelo menos até cometer este erro no Mundial de 2006. Antes de isso acontecer, Poll teve uma grande carreira como árbitro em Inglaterra. Ele esteve presente na fundação da Premier League, uma vez que foi pré-selecionado para árbitro em 1993. Antes disso, ele arbitrava em jogos que eram conhecidos como jogos da primeira divisão.
Naturalmente, a sua carreira de renome foi o que o levou a entrar na lista de árbitros da Premier League. Ele arbitrou mais de 1500 jogos durante a sua carreira de 26 anos, tendo começado como árbitro adjunto e depois passado a árbitro principal.
Em 1996, Graham Poll entrou na lista dos árbitros da FIFA, o que significa que ele podia arbitrar jogos da FIFA, incluindo o Mundial de futebol. Ele fez parte do Mundial em 2002 e 2006, ano em que este erro aconteceu. Após este erro, Poll decidiu retirar-se da arbitragem internacional.
Um jogadores e três cartões amarelos
Como o foco desta história são os três cartões amarelos, vamos dar uma visão geral sobre o jogo entre a Austrália e a Croácia, e falar de Josip Simunic, o jogador em questão.
Apesar de ter causado as faltas que originaram os cartões amarelos, Simunic não teve culpa do erro do árbitro nem o tentou enganar de alguma forma. Mas por agora, tudo o que precisa de ter em mente é que o jogador que recebeu os cartões amarelos foi Josip Simunic, um defesa croata que jogava com o número 3.
O primeiro cartão amarelo
Ao minuto 61, Poll assinalou o primeiro cartão amarelo a Simunic. O defesa croata cometeu uma falta sobre um jogador australiano e teve direito ao seu primeiro amarelo.
Foi neste momento que uma situação bizarra ocorreu, porque se numa situação normal o amarelo seguinte seria equivalente a uma expulsão, não foi isso que aconteceu aqui.
O segundo cartão amarelo
Ao minuto 90, Poll assinalou o segundo cartão amarelo para Simunic. Tal como muitos árbitros fazem, Poll anotou o nome do jogador e o seu número no cartão amarelo. Foi neste momento que, para espanto dos jogadores, adeptos no estádio e espetadores de todo o mundo, o árbitro não assinalou o cartão vermelho. Em vez disso, ele voltou a colocar o cartão amarelo no bolso e ficou por aqui. Há até quem diga que tal como os gatos, Simunic tinha mais vidas.
Simunic tinha acabado de escapar à sua expulsão devido a um erro de arbitragem. No entanto, Simunic acabou mesmo por ser expulso, mas não porque o árbitro deu conta do erro que cometeu, mas por culpa do jogador croata.
O terceiro cartão amarelo
Muitos pensavam que Simunic ia aproveitar o facto de continuar em campo para seguir as regras e não cometer mais nenhuma falta, mas tal não aconteceu. O jogador começou a protestar contra a decisão do árbitro em assinalar cartão amarelo e tanto que protestou que acabou por receber o terceiro cartão amarelo.
Desta vez, Poll tirou o cartão vermelho do bolso e mostrou-o a Simunic, expulsando-o do jogo já quase no início do tempo de compensação. Apesar de ter acabado por expulsar o jogador croata, o erro de assinalar três cartões amarelos ao mesmo jogador já tinha sido testemunhado por todo o Mundo e quanto a isso não havia nada a fazer.
Como isto aconteceu?
Poll não percebeu o erro que cometeu até ao fim do jogo, e quando ele teve a noção do que tinha feito, pediu para ser retirado do Mundial imediatamente e regressou à Inglaterra, o que mereceu elogios da FIFA pela sua iniciativa.
Mas ainda há uma questão que falta responder: o porquê de uma situação destas acontecer a um árbitro tão experiente. A verdade é que este episódio aconteceu devido a uma coincidência e não um erro de arbitragem.
Numa entrevista dada depois do jogo, Poll explicou que costumava usar um sistema no qual dividia os jogadores em duas colunas. Depois, ele escrevia o nome e o número do jogador na coluna da respetiva equipa quando lhes assinalava falta.
Por coincidência, Simunic apesar de jogar pela Croácia, nasceu na Austrália e viveu no país até aos 19 anos e por causa disso, o jogador falava com sotaque australiano. Quando Poll assinalou o cartão amarelo a Simunic, escreveu que o cartão tinha sido assinalado ao jogador australiano Craig Moore, o número 3 da seleção. É claro que a cor da camisola devia ter sido suficiente para Poll acertar e assinar na coluna certa o cartão amarelo, mas os erros acontecem, principalmente com toda a tensão e o caos que se vive durante um Mundial de futebol.
Se por um lado, podemos pensar que um árbitro com a experiência de Poll teria evitado um erro destes, por outro, temos de assumir que este erro foi (em parte) causado pelo sotaque de Simunic e não apenas pela distração do árbitro. Pelo menos este erro não teve nenhum impacto no resultado da partida, e no fim tudo acabou bem e não passou de mais um momento a ficar na história do Mundial.
